Camino de Santiago
Dia 0 (quinta-feira, 30 de Setembro de 2010):
Preparativos para a grande aventura e peregrinação!
Hora combinada para saída: 20h00
Hora efectiva de saída: 24h00 (o menino Serginho atrasou-se a fazer a mala… e eu também tive alguma responsabilidade no atraso).
Dia 1 (1 de Outubro de 2010)
À meia-noite, então, os três peregrinos rumaram a St Jean Pied de Port, (Sérgio Luís, Jorge Fradique e Carlos Fradique – um elemento convidado para esta peregrinação), tendo chegado ao destino ao meio dia de dia 1.
Após passar pelo albergue para carimbar as cadernetas e ouvir umas dicas sobre o caminho, e um almoço para retemperar foças após uma noite quase sem dormir, eu e o Sérgio arrancámos pelas 15h para iniciar a Peregrinação a Santiago de Compostela.
Para este 1º dia estava previsto um percurso de 53 km, sendo que o primeiro troço, correspondente à passagem dos pirinéus, tinha um desnível de 1230 m em 18 km, com boa parte dos troços com mais de 10% de inclinação! Em grande parte o percurso era em alcatrão (felizmente) mas mesmo assim de uma dureza assinalável!
O Sérgio está a dizer para não escrever muito, senão o pessoal não lê, por isso vou ser mais sintético… LOL
A meio do percurso tínhamos combinado encontrar com o Carlos onde supostamente passava o caminho, mas não sei qual foi a volta que demos e não passámos lá e fomos sair directamente a Roncesvales. Como ainda era cedo, continuámos em direcção a Larrasoana e enviámos uma mensagem ao Carlos, cujo telemóvel estava sem rede (grande confusão iria dar…).
A segunda parte do caminho era simplesmente espectacular, com percursos no meio do arvoredo, single tracks lindos e descidas que mais pareciam de uma prova de BTT! Eu e o Sérgio adorámos! Devido ao atraso inicial, o final foi feito já de noite, só com a minha luz, mas o caminho continuava muito interessante. O único problema é que parece haver aqui no País Basco uma unidade diferente de comprimento! Os km não passavam, e ao fim de muitos minutos a pedalar encontrávamos uma indicação de que a distância em falta era a mesma! Os 2 km finais pareceram quase 4!
Após resolvida a confusão com o meu primo Carlos, que chegou a ir à polícia e aos bombeiros para nos tentar encontrar, ficámos num albergue em Larrasoaña, onde havia também muitos peregrinos a pé, que começam a levantar-se pelas 5 da manhã!
Dia 2 (2 de Outubro de 2010)
Desta vez arrancámos eu e o Carlos, para continuar a Peregrinação. Em perspectiva mais de 80 km até Los Arcos! A primeira parte era gira e muito simples, nos arredores e em Pamplona (pois, a mesma das largadas de touros) serpenteando pelas localidades, onde grande parte do caminho foi convertido em ciclovia. Depois continuámos para Puente la Reina, onde o Sérgio nos esperava para almoçar. A meio passámos no Alto del Perdón, com uma vista espectacular para os dois vales, um de cada lado, e com uma escultura de homenagem aos peregrinos. Após o almoço seguimos em direcção a Estella e o caminho subia um pouco, originando algum cansaço acumulado para o Carlos. Ele quis ainda assim continuar para Los Arcos, o que o obrigou a um esforço elevado, dada a sa pouca experiência. Pelo caminho passa-se pelo mosteiro de Irache, onde existe uma “fonte de vinho” – uma fonte com uma torneira para água e outra para vinho, à disposição dos peregrinos!
Parece que depois da pinga ficámos com mais “pica” e a subida a Monjardin não custou tanto. Daqui até Los Arcos era quase sempre em descida, o que facilitou muito a chegada do Carlos ( e a minha, claro!). Jantar do peregrino, com pão, dois pratos, água vinho e sobremesa por 12€!
Dormimos num albergue melhorzinho, com um quarto só para nós (embora um pouco mais caro).
Dia 3 (3 de Outubro de 2010):
Saímos de Los Arcos cedinho, pelas 8 e picos, desta vez eu e o Sérgio, para mais uma tirada da nossa peregrinação, com previsão de chegar Santo Domingo de la Calzada. Na parte inicial do dia o caminho era um autêntico rompe-piernas, um autêntico sobe e desce por montes e vales, com descidas de 10% de inclinação, e as correspondentes subidas…
Passagem por Logroño, sem grandes motivos de interesse, a não ser a inveja pelo enorme parque desportivo e de lazer que se estendia por vários quilómetros, com óptimas condições para correr, andar de bicicleta, passear com as crianças, etc. Almoço em Navarrete, umas tapas num dos poucos locais abertos, pois por aqui ao domingo fecha quase tudo, incluindo os restaurantes! Durante a tarde levantou-se uma ventania bastante forte, que dificultava a progressão ou nos atirava para fora do caminho ao mínimo descuido.
Parece que havia uma festa qualquer em Santo Domingo de la Calzada (o sítio onde o galo e a galinha cantaram depois de mortos, com uma catedral muito interessante, dedicada ao SantoDomingo), sendo difícil encontrar lugares para ficar, pelo que prolongámos um pouco a jornada até Grañón, onde encontrámos um albergue verdadeiramente autêntico! Todos os peregrinos dormem no chão, em colchões, em dois salões grandes, jantam juntos e tomam o pequeno almoço juntos. O convívio e a troca de experiências entre todos é muito interessante e havia pessoas de uma grande diversidade de países – Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Canadá! Verdadeiramente internacional.
Dia 4 (4 de Outubro de 2010):
Acordamos todos bem cedinho, à semelhança da noite anterior o pequeno almoço foi tomado em comunidade. Lá fora estava um vendaval que até levantou telhas durante a noite. O Carlos só perguntava “ Voçês vão andar com este temporal, já viram a ventania que está lá fora! Voçes são uns grandes malucos!”
Às 7:50 já estávamos prontos para começar a etapa. Íamos todos bem agasalhados e preparados para a chuva que ameaçava cair a qualquer momento e caiu mesmo! A etapa na generalidade de correu bem. Os primeiros 28km foram feitos debaixo de chuva e vento num terreno bastante acessível, até encontrarmos um café onde tomamos o café da praxe, aí encontramos uns peregrinos ciclistas que nos informaram que os km que se seguiam iam ser bastante duros previa-se muita lama e uma subida de 5km com inclinação média de 8%. O Sérgio para precaver da subida atestou logo com dois bocadillos de jamon, o Carlos achou que estava com muita energia e não comeu nada. E lá partimos para a subida… A subida era efectivamente longa, mas revelou-se muito mais fácil do que nos tinham dito e lama nem vê-la. O caminho parecia uma autentica auto-estrada para o BTT. Neste trajecto encontramos muitos peregrinos até um grupo de militares encontramos a fazer os caminhos de Santiago. Ao chegarmos ao fim desta subida esperava-nos uma longa descida até San Juan de Ortega, foram cerca de 7km sempre a descer com uma inclinação não muito acentuada, por meio de um floresta só nos dava vontade de dar gás. Em San Juan de Ortega aproveitamos para nos reabastecer para mais uma longa descida entre alcatrão e estradão que nos levava até Burgos. Em Burgos foi muito complicado dar-mos com o caminho, acaba-mos por nos direccionar para a Catedral. Após a visita à Catedral que é espectacular e que recomendamos todos a visitar. Fomos fazer os últimos 20km do dia até Hornillos del Camino, quase sempre em estradão, onde o Sérgio deixou para trás o companheiro. O albergue municipal estava cheio mas tinha um “anexo”onde havia lugares. A povoação só tinha um restaurante, mas a ementa do peregrino, com dois pratos e postre (sobremesa) por 9€ estava óptima!
Dia 5 (5 de Outubro de 2010):
Implantação da República – curiosamente estamos numa Monarquia!
Arrancámos eu e o Sergio pelas 8 e picos, ainda o sol estava meio escondido, e sentia-se bem o fresco da madrugada (fresco é favor, estava um gelo…). O Sérgio começou a acelerar (diz que era para aquecer) e ao fim de 50 minutos já tínhamos feito 20 km! Passámos por um vale com um trilho muito curioso e giro de fazer – era um single track triplo, pois a estrada formava três trilhos paralelos, separados por vegetação, ondulando ao longo do vale – muito giro, e ainda mais a fazer rapidinho.
Passámos por um antigo convento de San Anton (Santo António) que estava em ruínas mas adaptado para um albergue, com umas lonas a fechar a zona aberta das ruínas – muito curioso! Depois de Castrojeriz havia uma subida que estava prevista no mapa – o que não se via no mapa é que subia em terra com pedras soltas e uma inclinação perto dos 20%! Mas fazia-se e deu para aquecer o que faltava do fresco da manhã – e a vista lá de cima era espectacular!
O Camino seguia depois por uma zona ao lado do Canal de Castilha com uma paisagem muito gira e que terminava numa eclusa tripla – em degraus! Seguia-se uma zona em que o Camino acompanhava a estrada, muito arranjado, e com muitos pinos aos pares, que davam para passar pelo meio (quase à conta). Almoçámos em Villalcazar de Sirga, uma grande barrigada com menu do peregrino e mais uns petiscos…
O troço seguinte era mais complicado – não em termos de tipo de piso pois era um estradão com algum saibro solto, mas porque parecia uma travessia do deserto – campos de palha de um lado e de outro e uma recta a perder de vista, sem uma única árvore ou casa ou qualquer outra coisa! Km e km quase em plano mas que nunca mais passavam! Imagino como será fazer isto a pé! Nesta zona encontrámos pela primeira vez uma dupla portuguesa a pé.
Em Sahagún passámos o “meio” do Camino, devidamente assinalado e marcado, como convém! Pouco depois, num cafezito umas espanholitas apelidaram-nos de marcianos, e foi preciso tirar o capacete e a badana para então nos acharem “más guapos”! Depois da Calzada del Coto, havia uma grande confusão na marcação do Camino e acabámos por seguir por uma alternativa que depois percebemos ser a via Trajana! Mas acho que aqui fomos guiados pelo Santiago, pois na terra onde tínhamos programado ficar não havia lugar no albergue!
Assim acabámos por ficar em Calzadilha de los Hermanilhos, num albergue espectacular e novo, após 120 km à média de 19,1 km/h!
Dia 6 (6 de Outubro de 2010):
Podemos descrever esta etapa muito rapidamente: Chuva e frio todo o dia!
Sim desta vez apanhámos chuva quase todo o dia, com excepção de uma pequena parte inicial em que ainda não chovia. Apesar da calçada romana, até conseguimos manter um bom andamento. Passámos por Léon, onde chegámos completamente enregelados e a bater os dentes. Nem a beleza da catedral permitiu aliviar o frio! Só após encontrar o Sérgio que estava desta vez de carro vassoura, nos permitiu trocar as roupas por outras mais quentes e assim evitar o treme-treme que nos estava a atacar! Nesta zona a paisagem mudou bastante e já encontrámos pequenos bosques de choupos, plantações de milho e outras que não identifiquei dada a minha falta de cultura agrícola. Para não variar a sinalização do Camino dentro de Léon era péssima. Seguimos depois em direcção a Astorga, passando por algum sobe e desce ligeiro com umas cruzes nos pontos altos. Descida final em direcção a Astorga, onde a catedral é muito bonita e diferente por fora, mas infelizmente não nos deixaram ver por dentro (fechava às 18h e chegámos às 17h40, mas já não nos deixaram entrar!).
O Sérgio tinha descoberto um albergue jeitoso 4 km à frente, com jantar e pequeno almoço incluído, onde estivemos “de molho” cerca de meia hora em água quentinha para recuperar do frio de rachar que passámos de manhã.
No total foram quase 101 km, de manhã com uma média perto dos 20 km/h mas que à tarde com chuva e a lama e o caminho “das pedras” baixou significativamente.
Parece que amanhã o Sérgio quer tentar a subida ao “Cebrero” no final dos 90 km da etapa! Pelo menos não há razão para não chegarmos lá quentinhos…
Dia 7 (7 de Outubro de 2010):
Este foi o dia mais duro da nossa peregrinação. O Sérgio acordou cheio de pica e às 7h e picos já estava pronto para começar a pedalar!
Pelas oito e picos lá arrancámos, eu e o Sérgio para uma autêntica jornada épica! Logo a começar, para não dar hipótese de frio, saímos de Murias de Rechivaldo quase logo a subir, desde os 800 m de altitude até aos 1150 m de Rabanal del Camino e, para não perder a embalagem, continuámos a subir até aos 1504 m da Cruz de Ferro e aos 1515 m do Collado de las Antenas, passando na localidade mais pequena que já vimos, o Manjarín, pois na mesma foto conseguimos apanhar a placa de início e de fim da localidade. Diga-se também que durante toda esta parte do trajecto, onde se supõe que as paisagens seriam maravilhosas, esteve sempre um nevoeiro de cortar à faca e só vimos a cruz de ferro porque não estava muito alta… O Sérgio estava com a pica toda a subir e quase que tive que lhe atar uma corda para o acalmar!
De acordo com o mapa seguia-se uma descida de 14 km até Molinaseca, que fica a 590 m de altitude, pelo que prevíamos que esta parte terminasse rapidamente – erro crasso! Acho que levámos quase tanto tempo a descer como a subir! De facto a descida fazia-se por um terreno mais duro do que muitas provas de BTT, em muitos locais quase ao nível do down-hill, tal era a dificuldade com pedra solta, rocha, laje de xisto, drops e degraus, que em alguns pontos nos obrigaram mesmo a desmontar por segurança. Mesmo a pé, o percurso era muito complicado! Felizmente o nevoeiro começou a levantar o que permitiu ver algumas paisagens, quando conseguíamos levantar os olhos do chão…
Molinaseca é uma terrinha muito engraçada, com uma zona antiga muito arranjada, uma piscina artificial em pleno rio, igrejas e outros monumentos, tudo muito bonito! Seguimos caminho até Ponferrada, onde o Carlos estava arranjar os travões da bicicleta que tinham acabado no dia anterior. Ponferrada tem um castelo templário muito bonito mas, para não fugir ao habitual nas cidades maiores, desapareceram as marcações do Camino e tivemos que andar a perguntar para encontrar a saída. Aproveitámos para comer um bocadillo enquanto o Carlos ainda estava à espera da bici e seguimos em direcção a Villafranca del Bierzo, por um terreno de sobe e desce engraçado mas um pouco rompe-pernas. Aqui o Carlos estava à nossa espera e parecia ter uma venda de equipamento de ciclismo, pois tinha estendido a roupa e os sapatos pelo carro para ver se secavam! Daqui até Vega de Valcarce o Camino seguia quase sempre junto à estrada, numa ciclovia ligeiramente a subir mas que permitiu manter um bom ritmo. Em Vega de Valcarce bebemos uma canha que soube mesmo bem, fresquinha e bem tirada! Era a preparação para o final da etapa e momento alto de todo o Camino: a subida ao Cebreiro! Já com 90 km nas pernas atacámos então mais esta fase entre os 630 m e os 1330 m em cerca de 8 km! A parte inicial era em alcatrão, mas eu já estava muito desgastado e tive que parar algumas vezes para conseguir fazer a subida. Na parte final da subida entrava-se nos trilhos e apesar da dificuldade com rochas, lajes e pedras soltas conseguimos ultrapassar estes obstáculos sem grandes problemas. Ao contrário da primeira parte em alcatrão, deu muito gozo fazer esta parte e dizer que é possível subir ao Cebreiro em bicicleta, ao contrário do que várias pessoas nos tinham avisado pelo caminho! Assim que chegámos ao cimo, entrámos num café e tomámos um chocolate quente que soube deliciosamente, enquanto o Carlos não parava de nos apressar para fazermos o registo no albergue. Este apesar de enorme acabou por ficar quase cheio, ou mesmo cheio. Nem sei quantas pessoas leva, mas a minha cama era o n.º 59 da camarata B, e havia 3 camaratas!
Dia 8 (8 de Outubro de 2010):
Etapa do Carlos e do Sérgio, onde mais uma vez a chuva marcou presença em grande. Choveu quase todo o dia, com alguns períodos de acalmia logo seguidos de nova chuvada. Em algumas zonas o vento forte também se fez sentir.
Como já estão os dois a ressonar aqui ao meu lado numa pensão em Melide, não sei dizer muito mais a não ser que tive que ir buscar o Sérgio a cerca de 15 km, pois ficou sem travões, e andar por todas as lojas de bicis à procura de calços adequados, sem sucesso! O Carlos chegou ao final 1 hora depois, ensopado que nem um pato e estafado!
Atenção não estávamos a Ressonar……
Estávamos a descansar porque fazer 100km debaixo de chuva e vento não é fácil. O percurso era muito sobe e desce com muita bosta de vaca, onde era preciso alguma perícia para ultrapassar determinados obstáculos. Destaco principalmente o número elevado de peregrinos que encontramos na etapa de hoje. Ao km 100 da chegada a Santiago fui brindado com um três alemãs (que estavam a fazer o percurso a pé) a comemorar esse facto , às quais me juntei e bebi uma coisa qualquer com muito grau. Entretanto chegou a hora de Almoço com a descida para Portomarin, onde passamos uma ponte sobre o rio Minho, com uma paisagem espectacular. Aí já se encontrava o Jorge à nossa espera e almoçamos por aí e descobrimos o Polvo à galega (dose que repetimos ao jantar), que é muito bom e continuamos logo de seguida a nossa peregrinação. Da Parte da tarde esperava-nos um sobe e desce constante que nos levou até Melide.
Dia 9 (9 de Outubro de 2010):
Acordamos à hora do costume e saímos pelas 8:20 debaixo de chuva que era a continuação do dia anterior. O Sérgio como não conseguiu arranjar os seus travões, o Carlos emprestou-lhe a bicicleta para fazer os 53km finais. O sobe e desce manteve-se e o terreno pesado também, mas assim que entravávamos numa zona de bosque mais fechada, era como ficasse de noite. Ao fim de 1 hora a chuva abrandou e o sol começou a dar a sua graça. O grande número de peregrinos de novo no caminho obrigava a ultrapassagens por vezes complicadas, nas zonas mais estreitas. Para não fugir às dificuldades técnicas o Jorge ficou sem travão da frente, o que obrigou a um doseamento delicado para negociar as descidas. A partir daqui, o Jorge não conseguia descer e o Sérgio não conseguia subir, pelo que estavam equilibrados!
Apesar de ser a última etapa, nem por isso era fácil, pois as subidas e descidas continuaram até quase ao final. A cerca de 5 km do final fazemos finalmente a última subida, ao Monte do Gozo, onde existe um monumento comemorativo da peregrinação de João Paulo II a Santiago. A partir daqui era finalmente tudo a descer até à entrada da cidade. Após um encontro junto ao hotel, seguimos os três e terminámos juntos a peregrinação, na Praça do Obradoiro, frente à Catedral, onde se juntava uma multidão considerável. Na fila para obter a Compostela, o Sérgio foi buscar uns bocadillos, que souberam que nem ginjas!
Estava cumprida a peregrinação a Compostela 2010!
Dia 6 (6 de Outubro de 2010):
Podemos descrever esta etapa muito rapidamente: Chuva e frio todo o dia!
Sim desta vez apanhámos chuva quase todo o dia, com excepção de uma pequena parte inicial em que ainda não chovia. Apesar da calçada romana, até conseguimos manter um bom andamento. Passámos por Léon, onde chegámos completamente enregelados e a bater os dentes. Nem a beleza da catedral permitiu aliviar o frio! Só após encontrar o Sérgio que estava desta vez de carro vassoura, nos permitiu trocar as roupas por outras mais quentes e assim evitar o treme-treme que nos estava a atacar! Nesta zona a paisagem mudou bastante e já encontrámos pequenos bosques de choupos, plantações de milho e outras que não identifiquei dada a minha falta de cultura agrícola. Para não variar a sinalização do Camino dentro de Léon era péssima. Seguimos depois em direcção a Astorga, passando por algum sobe e desce ligeiro com umas cruzes nos pontos altos. Descida final em direcção a Astorga, onde a catedral é muito bonita e diferente por fora, mas infelizmente não nos deixaram ver por dentro (fechava às 18h e chegámos às 17h40, mas já não nos deixaram entrar!).
O Sérgio tinha descoberto um albergue jeitoso 4 km à frente, com jantar e pequeno almoço incluído, onde estivemos “de molho” cerca de meia hora em água quentinha para recuperar do frio de rachar que passámos de manhã.
No total foram quase 101 km, de manhã com uma média perto dos 20 km/h mas que à tarde com chuva e a lama e o caminho “das pedras” baixou significativamente.
Parece que amanhã o Sérgio quer tentar a subida ao “Cebrero” no final dos 90 km da etapa! Pelo menos não há razão para não chegarmos lá quentinhos…
Dia 7 (7 de Outubro de 2010):
Este foi o dia mais duro da nossa peregrinação. O Sérgio acordou cheio de pica e às 7h e picos já estava pronto para começar a pedalar!
Pelas oito e picos lá arrancámos, eu e o Sérgio para uma autêntica jornada épica! Logo a começar, para não dar hipótese de frio, saímos de Murias de Rechivaldo quase logo a subir, desde os 800 m de altitude até aos 1150 m de Rabanal del Camino e, para não perder a embalagem, continuámos a subir até aos 1504 m da Cruz de Ferro e aos 1515 m do Collado de las Antenas, passando na localidade mais pequena que já vimos, o Manjarín, pois na mesma foto conseguimos apanhar a placa de início e de fim da localidade. Diga-se também que durante toda esta parte do trajecto, onde se supõe que as paisagens seriam maravilhosas, esteve sempre um nevoeiro de cortar à faca e só vimos a cruz de ferro porque não estava muito alta… O Sérgio estava com a pica toda a subir e quase que tive que lhe atar uma corda para o acalmar!
De acordo com o mapa seguia-se uma descida de 14 km até Molinaseca, que fica a 590 m de altitude, pelo que prevíamos que esta parte terminasse rapidamente – erro crasso! Acho que levámos quase tanto tempo a descer como a subir! De facto a descida fazia-se por um terreno mais duro do que muitas provas de BTT, em muitos locais quase ao nível do down-hill, tal era a dificuldade com pedra solta, rocha, laje de xisto, drops e degraus, que em alguns pontos nos obrigaram mesmo a desmontar por segurança. Mesmo a pé, o percurso era muito complicado! Felizmente o nevoeiro começou a levantar o que permitiu ver algumas paisagens, quando conseguíamos levantar os olhos do chão…
Molinaseca é uma terrinha muito engraçada, com uma zona antiga muito arranjada, uma piscina artificial em pleno rio, igrejas e outros monumentos, tudo muito bonito! Seguimos caminho até Ponferrada, onde o Carlos estava arranjar os travões da bicicleta que tinham acabado no dia anterior. Ponferrada tem um castelo templário muito bonito mas, para não fugir ao habitual nas cidades maiores, desapareceram as marcações do Camino e tivemos que andar a perguntar para encontrar a saída. Aproveitámos para comer um bocadillo enquanto o Carlos ainda estava à espera da bici e seguimos em direcção a Villafranca del Bierzo, por um terreno de sobe e desce engraçado mas um pouco rompe-pernas. Aqui o Carlos estava à nossa espera e parecia ter uma venda de equipamento de ciclismo, pois tinha estendido a roupa e os sapatos pelo carro para ver se secavam! Daqui até Vega de Valcarce o Camino seguia quase sempre junto à estrada, numa ciclovia ligeiramente a subir mas que permitiu manter um bom ritmo. Em Vega de Valcarce bebemos uma canha que soube mesmo bem, fresquinha e bem tirada! Era a preparação para o final da etapa e momento alto de todo o Camino: a subida ao Cebreiro! Já com 90 km nas pernas atacámos então mais esta fase entre os 630 m e os 1330 m em cerca de 8 km! A parte inicial era em alcatrão, mas eu já estava muito desgastado e tive que parar algumas vezes para conseguir fazer a subida. Na parte final da subida entrava-se nos trilhos e apesar da dificuldade com rochas, lajes e pedras soltas conseguimos ultrapassar estes obstáculos sem grandes problemas. Ao contrário da primeira parte em alcatrão, deu muito gozo fazer esta parte e dizer que é possível subir ao Cebreiro em bicicleta, ao contrário do que várias pessoas nos tinham avisado pelo caminho! Assim que chegámos ao cimo, entrámos num café e tomámos um chocolate quente que soube deliciosamente, enquanto o Carlos não parava de nos apressar para fazermos o registo no albergue. Este apesar de enorme acabou por ficar quase cheio, ou mesmo cheio. Nem sei quantas pessoas leva, mas a minha cama era o n.º 59 da camarata B, e havia 3 camaratas!
Dia 8 (8 de Outubro de 2010):
Etapa do Carlos e do Sérgio, onde mais uma vez a chuva marcou presença em grande. Choveu quase todo o dia, com alguns períodos de acalmia logo seguidos de nova chuvada. Em algumas zonas o vento forte também se fez sentir.
Como já estão os dois a ressonar aqui ao meu lado numa pensão em Melide, não sei dizer muito mais a não ser que tive que ir buscar o Sérgio a cerca de 15 km, pois ficou sem travões, e andar por todas as lojas de bicis à procura de calços adequados, sem sucesso! O Carlos chegou ao final 1 hora depois, ensopado que nem um pato e estafado!
Atenção não estávamos a Ressonar……
Estávamos a descansar porque fazer 100km debaixo de chuva e vento não é fácil. O percurso era muito sobe e desce com muita bosta de vaca, onde era preciso alguma perícia para ultrapassar determinados obstáculos. Destaco principalmente o número elevado de peregrinos que encontramos na etapa de hoje. Ao km 100 da chegada a Santiago fui brindado com um três alemãs (que estavam a fazer o percurso a pé) a comemorar esse facto , às quais me juntei e bebi uma coisa qualquer com muito grau. Entretanto chegou a hora de Almoço com a descida para Portomarin, onde passamos uma ponte sobre o rio Minho, com uma paisagem espectacular. Aí já se encontrava o Jorge à nossa espera e almoçamos por aí e descobrimos o Polvo à galega (dose que repetimos ao jantar), que é muito bom e continuamos logo de seguida a nossa peregrinação. Da Parte da tarde esperava-nos um sobe e desce constante que nos levou até Melide.
Dia 9 (9 de Outubro de 2010):
Acordamos à hora do costume e saímos pelas 8:20 debaixo de chuva que era a continuação do dia anterior. O Sérgio como não conseguiu arranjar os seus travões, o Carlos emprestou-lhe a bicicleta para fazer os 53km finais. O sobe e desce manteve-se e o terreno pesado também, mas assim que entravávamos numa zona de bosque mais fechada, era como ficasse de noite. Ao fim de 1 hora a chuva abrandou e o sol começou a dar a sua graça. O grande número de peregrinos de novo no caminho obrigava a ultrapassagens por vezes complicadas, nas zonas mais estreitas. Para não fugir às dificuldades técnicas o Jorge ficou sem travão da frente, o que obrigou a um doseamento delicado para negociar as descidas. A partir daqui, o Jorge não conseguia descer e o Sérgio não conseguia subir, pelo que estavam equilibrados!
Apesar de ser a última etapa, nem por isso era fácil, pois as subidas e descidas continuaram até quase ao final. A cerca de 5 km do final fazemos finalmente a última subida, ao Monte do Gozo, onde existe um monumento comemorativo da peregrinação de João Paulo II a Santiago. A partir daqui era finalmente tudo a descer até à entrada da cidade. Após um encontro junto ao hotel, seguimos os três e terminámos juntos a peregrinação, na Praça do Obradoiro, frente à Catedral, onde se juntava uma multidão considerável. Na fila para obter a Compostela, o Sérgio foi buscar uns bocadillos, que souberam que nem ginjas!
Estava cumprida a peregrinação a Compostela 2010!
Ah grandas malucos....força !!!
ResponderEliminarSó falta as fotos, mas tudo bem !!!
Abraços
Uma jornada épica, parabéns aos aventureiros. Espero um dia fazer um coisa dessas.Bom regresso. Abraço
ResponderEliminarAgora que só faltam uns 50Km de um carrossel por caminhos bem cheios de bosta de vaca, continuem em grande ritmo que Santiago está à espera com um polvo à galega e uma pinga do melhor.
ResponderEliminarParabéns pessoal e bom regresso
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